CINE PET - DIA 19/11 às 16h

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NESTA SEXTA-FEIRA, DIA 19/11, ÀS 16H, NO CONSEQUINHO (AUDITÓRIO DE CIÊNCIAS SOCIAIS), O PET CIÊNCIAS SOCIAIS JUNTAMENTE AO PET GEOGRAFIA EXIBIRÁ O FILME "CASAMENTO SILENCIOSO"




Resenha



O cinema romeno desponta no cenário internacional como um dos mais aplaudidos e bem sucedidos da atualidade. Alguns exemplares oriundos do pequeno país europeu fizeram sucesso nos mais diversos festivais em que foram selecionados mundo afora. Esta exposição é muito positiva e gratificante, pois evidencia a cinematografia de um país que, até então, não obtinha grande repercussão no panorama cinematográfico – salvo raras exceções, como os relativamente conhecidos Nae Caranfil e Radu Mihaileanu. A Romênia atual revelou uma “nova onda” de cineastas críticos, porém não engajados. Sem se ater exclusivamente à pretensão de denunciar a corrosiva época dos anos de chumbo do comunismo, filmes como “A Leste de Bucareste”, de Corneliu Porumboio; “Como Eu Festejei o Fim do Mundo”, de Catalin Mitulesco e “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”, de Cristian Mungiu – todos premiados no Festival de Cannes – se apóiam em dramas individuais de pessoas que vivenciaram a intolerância do regime comunista, que cessou com a revolução de 1989. Comparado aos três exemplares citados, “Casamento Silencioso” é uma comédia satírico-política deliciosa, que, embora seja conduzida com humor debochado e conte com passagens de fantasia, não ofusca a crítica pertinente que tece aos desmandos comunistas que assolaram o leste europeu no século passado. 

A história começa nos dias remotos, quando uma equipe de televisão especializada em programas paranormais visita um antigo vilarejo, que se encontra em ruínas. Para compreender a razão da decadência do local, o filme faz um recuo no tempo, especificamente em 1953, ano em que os divertidos moradores do tal vilarejo preparavam uma festa de casamento já anunciada. Porém, a comemoração logo foi interrompida pelo governo comunista, que proibiu qualquer manifestação social em consideração à morte então recente do ditador russo Joseph Stalin. Desrespeitando as autoridades políticas, os noivos decidem prosseguir com o casamento, mas atentos a um “mísero” detalhe: não emitir nenhum som durante a cerimônia. 

Sem a necessidade do recurso flashback, “Casamento Silencioso” acaba desperdiçando alguns minutos de sua já curta duração (89 minutos) para situar a paisagem do local nos dias atuais ao espectador. Essa opção está longe de ser um erro, já que não compromete a fluidez, nem mesmo a própria narrativa. Porém, se eu tivesse o poder de escolha, limaria por completo a contemporaneidade e focaria apenas na hilária e inusitada história que se passa na década de 1950. Não demora muito para sermos apresentados a um vilarejo mergulhado no bom humor libidinoso e consumido pela camaradagem. Povoado por figuras divertidíssimas e amáveis, o espectador logo se identifica com as personagens do longa, alimentando inexplicável apreço por cada indivíduo que salta à tela. Desde os protagonistas, passando pelos personagens secundários e até boa parte dos figurantes, os diálogos naturalmente engraçados se comprometem a apresentar com clareza cada personagem que vive na aldeia, mesmo que se limitem a tecer comentários ácidos de situações constrangedores que o indivíduo se envolveu no passado – a sensacional cena do bar é uma aula de como introduzir uma grande quantidade de personagens em tão pouco tempo.

“Casamento Silencioso” é uma mistura homogênia de comédia debochada, crítica política e pitadas de nonsense. Com clara alusão ao famoso trio de comediantes norte-americano Os Três Patetas, o filme possui uma linguagem semelhante à de trabalhos de diretores consagrados como o italiano Federico Fellini – em sua fase surreal, a partir da década de 1960 – e o sérvio Emir Kusturica: narrativas que não excluem a comédia, mas desfilam um humor idiossincrático e recheado de simbolismos. Típico de diretores estreantes, o romeno Horatiu Malaele acaba sobrepondo peso excessivo em algumas sequências do longa, adotando uma estrutura inapropriada para a representação de determinadas cenas, como aquela arquitetada sob quadros e colagens. Contudo, são deslizes que passam quase despercebidos se balancear com justiça as vantagens e desvantagens que o ótimo trabalho de Malaele proporciona à trama. A própria cena que dá título ao filme, responsável pelas principais gags, é de uma vigorosidade impressionante, resultado de uma combinação harmoniosa de ternura e domínio narrativo.

Relativamente enfraquecido pelo realismo fantástico presente em algumas passagens do filme, “Casamento Silencioso” é um sopro de criatividade em meio à decadência atual da comédia, um gênero cada vez mais enlatado e que, infelizmente, pouco se reinventa. Se em tantos outros filmes – principalmente aqueles protagonizados por Adam Sandler e Eddie Murphy – os realizadores falham ao fazer o público rir com os problemas intestinais de algum personagem, há uma piada que envolve flatulência no filme romeno que talvez seja mais engraçado do que toda a filmografia dos dois atores citados. Porém, curiosamente, é o gosto amargo na boca que acompanha o espectador para fora da sala de cinema, fruto da (óbvia) constatação de que, da mesma forma que o homem pode ser engraçado, o mesmo é capaz de cometer atrocidades por razões biltres e consensuais.

CASAMENTO SILENCIOSO (Nunta Muta) Romênia, 2008. 
Direção: Horatiu Malaele
Roteiro: Adrian Lustig e Horatiu Malaele
Elenco: Meda Victor, Alexandru Potocean, Doru Ana e Valentin Teodosiu

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